O Vereador abaixo signatário, no uso de suas atribuições legais e na forma regimental, vem respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, após ouvido o Plenário desta Casa, REQUERER que seja aprovada moção pelo falecimento do poeta Geraldo Dimas Mateus, ocorrido na tarde de sexta-feira 27 de agosto de 2021.
JUSTIFICATIVA
Russas perdia mais um dos seus grandes artistas, nessa noite encantou-se o Poeta maior, Gerardo Dimas Mateus ou simplesmente Dimas Mateus, poeta de rima fcil, de voos rasantes, pensamento gil e versos ligeiros, era um tecelo de oralituras.
A natureza somente transforma o destino de uma criana enjeitada pelos pais biolgicos, se o choro do recm-nascido for comparado ao impiedoso vagido de extrema recusa da espcie humana, para no habitar nesse mundo apocalptico. Um vagido horripilante e melanclico, que se ouviu de uma casinha pobre, de taipa, onde os meles-de-so Caetano como trepadeiras coloridas, subiam pelas paredes para cobrir o telhado do alpendre, l do Stio So Pedro, em Russas. Gemido de tamanha lamentao que despertou naquela localidade, os campnios, para ouvir o galo-de-campina, a rolinha, o sabi, a juriti, a grana, a casaca-de-couro e periquitos, com o pranto triste do nascer do poeta russano. Num inverno onde se ouvia o tagarelo dos sapos beira do Aude Novo. Do cantar das marrecas entre as galinhas-d`gua e socs, que se misturavam com o perfume do aguap na Lagoa das Vacas. Onde a ventania como troa persistente, imitava no carnaubal o chiar dos carros de bois. A caipora com assobio de medo e terror, afugentava os caadores, com o pio terrvel das gralhas e dos corvos no milharal, que desafiava os gritos dos boiadeiros. Casinha humilde onde se ouvia estrias de lobisomem, de burrinha-de-padre e de mula-sem-cabea, quando o agouro da rasga-mortalha acordava as almas penadas das encruzilhadas e das casas mal-assombradas. Onde o pr-do-sol, como a fogueira do inferno, ocultava-se na escurido da noite, com medo da luz da lamparina. Que ao findar o paraso de pouco inverno, surgia a maldio do vero, como o inferno com a sua foice da morte, devorando a fartura da famlia dos pobres agricultores, para numa misria extrema, chorar de fome e de sede, no uivar dos ces famintos. E, assim, para definir que aquela criana pauprrima, triste e abandonada pelos pais, com um ano e meio de idade, que crescia analfabeta, sob criao do primo de sua me biolgica, de tempo a tempo, comia carnaubinha preta com as mgoas da roa, com o suor do cabo da enxada, com o fogo do ferro em brasa, mas, que um dia na profisso de ferreiro, confeccionou a iluso do seu vagido, e calou a voz da sede do saber, que o proibia estudar na infncia. Que pela dor sem fim, no o fazia sorrir e nem estudar, por obedincia rigorosa dos pais adotivos. Que pela amargura constante, no aliviava a agonia, o sofrimento e a decepo. E por no mudar a trajetria do mistrio de sua existncia, nessa peleja da vida temerria, surgiu a profisso da viola, que por esse destino de violeiro e cantador, criou os seus filhos, com respeito e educao. Apesar de ter passado apenas dois meses na escola, a temer a palmatria, com as quatro operaes de conta da tabuada na cabea, aprendeu a ler sozinho luz da lamparina. E esse admirvel russano, que trabalhou como ferreiro, domou bigorna, martelo, cortou ferro e pedra ao meio-dia, sentado no pedregulho pegando fogo e calou picareta para cavar buraco na terra infernal da seca terrvel. No podia ficar chorando a espera do velrio de sua viola. Pelo vagido que ainda retumbava pelas terras de So Bernardo das guas Ruas, no podia ser de outra pessoa, que no fosse do nosso grande poeta, cordelista, violeiro e cantador russano Geraldo Dimas Mateus, filho de Joaquim Mateus Pereira e Maria Pereira Mateus, casado com a Sra. Lcia Sombra, que ganhou o po de cada dia custa das cantorias que fazia nas fazendas dos senhores abastados. Coisa que aprendeu sozinho, observando os cantadores de viola, lendo cordis famosos, que de repente, muito novo, fez versos e cantou repente, a tornar-se um violeiro e cantador. Dimas ficou famoso com a parceria de Z Matias, e passou a ganhar muito dinheiro. Mas caiu no vcio de jogar roleta. Que maldio! Perdia tudo que ganhava nas cantorias. E quando foi morar em Fortaleza, para melhorar a vida, sem condio de sustentar a famlia, ao fazer o sinal-da-cruz, o vagido do recm-nascido explodiu num choro sem fim. Dimas caiu uma depresso profunda, e foi internado no Hospital Psiquitrico Mira y Lopes, por dois meses. Depresso uma doena terrvel, e pode levar qualquer um loucura se no for tratado com o trabalho. Mas, Dimas, no era louco e nunca foi doido. Porque entendo que a depresso, s no loucura, para quem se ocupa com o trabalho. E como Dimas havia fundado a Casa do Cantador, no bairro Carlito Pamplona, em 1985, como sede da Associao dos Cantadores do Nordeste (ACN), com espao de hotel, para receber os artistas da cultura popular nordestina, ao sair do hospital psiquitrico, colocaram Dimas como tesoureiro na Casa do Cantador. E como diz Voltaire: o nico remdio para a tristeza o trabalho, Dimas se recuperou da depresso, trabalhando para a classe dos artistas cantadores que faziam a cultura popular nordestina. E sem ganhar um tosto, somente por prazer de trabalhar, por 30 anos est frente da entidade da cultura popular. Apesar dos trs casos de Acidente Vascular Cerebral, ao se curar da depresso, comemora aos 83 anos, dez mandatos como presidente da Associao dos Cantadores do Nordeste. Dimas Mateus nasceu no Stio So Pedro, em Russas, e foi criado em Pedro Ribeiro, pelos pais adotivos Xavier e Etelvina. E foi adotado, porque seus pais biolgicos no tinham condio de cri-lo. Por tal motivo, como uma tristeza terrvel, carrega esse estigma na alma, pelo resto da vida, por nunca ter conhecido os seus genitores, Acreditando ainda no mistrio que seu pai foi sepultado vivo. Porque ele faleceu de ataque cardaco, as oito hora da manh e foi sepultado s duas horas da tarde. E nessa cisma, que o poeta prenuncia um ataque catalptico, que leva a crer que tenha sido enterrado vivo, o pai do violeiro e cantador Dimas Mateus presidente da Associao dos Cantadores do Nordeste.
Ante o exposto, e atendidas as formalidades regimentais, requeremos que fique constando nos anais dessa Casa de Leis, a presente Moo de Pesar pelo falecimento do poeta Geraldo Dimas Mateus. Que se d cincia da presente Moo de Pesar aos familiares, esposa, filhas etc, a quem expressamos as nossas sinceras condolncias.
Nestes Termos,
Pede e Aguarda Deferimento.
Sala das Sessões da Câmara Municipal de Russas, Estado do Ceará, aos 8 de Setembro de 2021.
FRANCISCO MAURCIO DA SILVA MARTINS
Vereador do PT
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